BRASÍLIA - Quem somos nós para questionar o Supremo? Sua decisão de liberar candidatos com "ficha suja" para concorrer foi por 9 a 2, e o relator, Celso de Mello, é tido como o ministro mais brilhante. Mas a decisão contraria frontalmente campanhas de juízes, entidades civis e cidadãos incomodados com a desfaçatez do sistema e de candidatos atolados em processos e nadando de braçada na política. Valeu o princípio da "presunção de inocência", que amanhã pode nos proteger - a mim e a você. Há, porém, um problema: a "presunção de inocência" dos poderosos dura para sempre. O sujeito enfia no bolso dinheiro da saúde e da educação dos pobres coitados. Mas vive tranqüilo e morre feliz, com os herdeiros bem encaminhados. E a decisão de ontem, de limitar as algemas para quando houver risco do preso, do policial ou de terceiros? Os experts passaram a discutir esse "abuso" no calor da prisão de um ex-prefeito que foi exposto, algemado, na TV. Enquanto os milhões de algemados e jogados em camburões eram anônimos, o assunto era frio. Agora esquentou. Mas o pior é que nada muda... para os anônimos, que vão continuar algemados e abusados. Juntando as duas coisas: os bandidos vão ser presos por poucas horas, sair com habeas corpus e disputar a eleição seguinte. E sem as algemas, que serviam como consolo: punição moral em falta de punição real. Agora, nem isso. Enfim, com todo o respeito que merecem a instituição e seus ministros, está sendo criado um fosso entre a realidade (e a indignação da sociedade) e os votos, a lentidão e os efeitos do Judiciário. Anteontem, lemos na Folha que acusados pela Polícia Federal e denunciados pelo Ministério Público num escândalo na Petrobras, cheio de provas, estão voltando, um a um, ao bem-bom dos cargos e dos altos salários. Roubar valeu a pena. "Dá um desânimo!", lamentou o procurador Carlos Alberto Aguiar. Disse-o bem, muito bem.
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