ILUMINÂNCIA

Carl Sagan em seu livro "Mundo assombrado pelos demônios", relata algo que pode ser a explicação pelo non sense do eleitor brasileiro frente a corrupção: "Se somos enganados por tempo suficiente, tendemos a rejeitar qualquer evidência de nosso engano. Não temos mais interesse em descobrir a verdade. O engano nos dominou. É demasiado doloroso admitir, mesmo para nós mesmos, que fomos capturados. Uma vez que você dá poder sobre você mesmo a um charlatão, é quase impossível recuperá-lo."

quarta-feira, fevereiro 21, 2007




Problema de segurança pública ou conivência politico-partidária com o crime, com aquela máxima da rebeldia dos menos favorecidos devido a opressão história?



CLÓVIS ROSSI - Comemorando o crime - FDSP hoje


SÃO PAULO - Digamos que tenha havido, na sua cidade, em meros três dias, uma seqüência de 41 assaltos a ônibus, 17 deles no formato de arrastões praticados por grupos de até 30 homens armados. Você, provavelmente, mesmo que não tenha sido vítima direta de nenhuma das ocorrências, ficaria indignado, assustado, amedrontado ou uma mistura de todas essas emoções. Bom, se você teve uma reação normal, azar seu: está eliminado de qualquer possibilidade de, algum dia, candidatar-se ao cargo de comandante-geral da Polícia Militar, ao menos na Bahia. Sim, porque, na capital baiana, durante o Carnaval (e até a tarde de segunda-feira), ocorreram de fato 41 assaltos a ônibus, 17 deles tomaram de fato a forma de arrastões -e ainda houve o apedrejamento de 187 ônibus. Como se fosse pouco, um passageiro foi jogado pela janela do ônibus em movimento e está internado com ferimentos graves. Muito bem. Qual a reação do comandante-geral da PM, coronel Antônio Jorge Santana? "Só temos a comemorar", afirmou o coronel, segundo o relato de Luiz Francisco, da Agência Folha em Salvador. O comandante ainda acrescentou: "Estamos com uma polícia atuante, trabalhando equipada com celulares, câmeras e helicópteros, para trazer mais segurança e tranqüilidade para o folião baiano e turistas". Ah, o número de ocorrências registradas em três dias (até domingo de manhã) havia sido de 1.280 (uma a cada três minutos). Se essa é a noção de "polícia atuante", se essa é a noção de "segurança e tranqüilidade", se 41 assaltos a ônibus são motivos para comemorar, é porque as autoridades brasileiras perderam completamente o rumo. Ainda bem que hoje é Cinzas, e Cinzas não dá motivos para mais "comemorações".
crossi@uol.com.br



BARBARA GANCIA


Lula e a lei do mínimo esforço


É mais fácil culpar a sociedade do que fazer autocrítica sobre as conseqüências do mensalão
O RIO DE JANEIRO nem bem se recuperou da barbárie cometida contra o menino arrastado até a morte e outro crime chocante, o assassinato de três franceses que trabalhavam em uma ONG, já tomou o lugar no noticiário.São Paulo nem bem se recuperou da chacina do último fim de semana e já foi surpreendida por um assalto a banco seguido de tiroteio em uma das principais vias da capital.Nem mesmo as autoridades têm sido poupadas da violência. Três ministros de Estado já estão na lista das vítimas: Márcio Thomaz Bastos teve o carro roubado, Luiz Gushiken, o sítio assaltado, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi refém de bandidos em um sítio de Ibiúna durante o Carnaval. Isso, sem contar o secretário municipal Andrea Matarazzo, que teve o Rolex surrupiado enquanto passeava pelos Jardins, e os seguranças dos filhos, respectivamente, do ex-governador Geraldo Alckmin e do presidente, um baleado e o outro morto.Há coisa de três anos, meus pais foram acordados em casa com armas apontadas para a cabeça. Depois da invasão, veio a perícia. O pessoal entrou, espiou, pediu desculpas por não poder colher as digitais por falta de material e foi embora para nunca mais voltar. Até hoje o caso não foi solucionado.Pois eu pergunto: o que se pode esperar de uma polícia que não tem meios para colher digitais?Mas a violência não parece tirar o sono do presidente Lula. Em vez de dar uma resposta concreta à sociedade, ele prefere tergiversar e nos ofender com suas banalidades.Diz ele que "pode botar dez vezes mais polícia na rua e o problema da violência não se resolverá, porque muitas vezes ela é uma questão de sobrevivência".Cuma, senhor presidente? Prefiro não dignificar a segunda parte do seu comentário com uma resposta a fim de não ofender os neurônios do meu leitor. Fiquemos apenas com a parte sobre o aumento do contigente policial. Quem disse que a gente espera que a questão seja resolvida com mais polícia na rua? Bastaria que a que já está aí fosse informatizada, equipada e melhor remunerada.Mas eu entendo, presidente. É muito mais conveniente culpar a sociedade do que fazer uma autocrítica sobre o sentimento de impunidade gerado pelo escândalo do mensalão. Muito mais fácil atrelar a violência ao fraco desempenho da economia em governos anteriores do que peitar a Igreja, que força mulheres pobres a conceber filhos indesejados, não é mesmo?