ILUMINÂNCIA

Carl Sagan em seu livro "Mundo assombrado pelos demônios", relata algo que pode ser a explicação pelo non sense do eleitor brasileiro frente a corrupção: "Se somos enganados por tempo suficiente, tendemos a rejeitar qualquer evidência de nosso engano. Não temos mais interesse em descobrir a verdade. O engano nos dominou. É demasiado doloroso admitir, mesmo para nós mesmos, que fomos capturados. Uma vez que você dá poder sobre você mesmo a um charlatão, é quase impossível recuperá-lo."

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Amo este artigo. Retrata de forma fiel o inconsciente ainda não despertado do zé cartão, tipico cidadão brasileiro, alguns preocupados com seus umbigos, até em razão da fome, outros usando a lei de gerson em sua mais pura essência.

A Igreja PT S.A.

Técnico da Seleção acha que o único objetivo das últimas determinações da Fifa é prejudicar o Brasil para agradar aos dirigentes dos principais clubes da Europa. 'Para que mais seria?', questiona.
Uma das razões do sucesso do PT como partido político é a hibridação que deu a sua organização, a qual combina os interesses materiais do bolso com os interesses financeiros do espírito - ou
vice-versa. Para gozar ao mesmo tempo das bênçãos e das vantagens oferecidas pelo partido, seus afiliados comprometem-se a pagar uma contribuição mensal que vai, segundo o noticiário, de 2% a 20% de tudo o que recebem em cargos públicos para os quais são nomeados.
Calcula-se entre 15 mil e 20 mil o número de cargos de segundo e terceiro escalões só no âmbito do governo federal. Mas essa contribuição alcança também senadores, deputados e vereadores e
demais cargos públicos obtidos pelos afiliados ao partido. Essa corretagem de agência de emprego recebe o nome de "dízimo", designação eclesiástica, que imprime um caráter religioso à obrigação.
O que vale dizer que quem não a cumpre não é apenas inadimplente de mera obrigação financeira, mas um pecador e um infiel. É o caso, por exemplo, da senadora Heloísa Helena, que deve R$ 28.345,00, ou computando-se juros e juros sobre juros, R$ 41.753,00 de dízimos ao
PT. Segundo o direito canônico, isso é pecado mortal que pode levar ao inferno...
Tal tipo de organização constitucional embute conseqüências práticas formidáveis e engendra resultantes subterrâneas e metastásicas que motivam muitas das misteriosas posturas assumidas pelo partido, suas lideranças e seus afiliados.
A primeira é o potencial de fogo financeiro de que dispõe para seu marketing eleitoral. É duvidoso que qualquer outro partido nacional disponha de reservas para enfrentar a caixa do PT. A segunda é que o "fiel" petista está sujeito a um confisco de renda maior do que vai os 36,45% a que está sujeito um cidadão-eleitor-contribuinte comum, confisco que pode absorver mais de metade de sua renda bruta. A terceira é que, afinal, queira e saiba, ou não se saiba nem queira, quem paga esses custos é todo cidadão brasileiro, seja petista ou não, pois quem paga os proventos dos afiliados do PT nomeados por sua agência de empregos somos todos, afiliados ou não.
Por aí se entendem macrofatos, como o do funcionalismo público em geral optar preferencialmente pelo PT e o PT ser o partido do funcionalismo.
Entende-se que o presidente petista da Câmara considere necessários os aumentos que os deputados se autoconcederam com calorosa adesão dos petistas. Fica-se sabendo que as dissensões entre Heloísa Helena e PT não são meramente ideológicas nem de mera inadimplência, mas de pecado. E assim por diante. Pode-se indagar se essas relações incestuosas entre o partido e seus afiliados não contrariam a ortodoxia da política financeira que interessa ao País e o governo parece haver adotado. Bisbilhoteiros e partidários do "materialismo histórico" e das teorias conspiratórias da História poderão formular muitas outras questões indiscretas e intrigantes.
Por exemplo: até que ponto essa anomalia estrutural do PT virá a influenciar a postura de seus líderes e bancadas quando se tratar de fazer a reforma política. Fatos são fatos. Um fato magno, revelado pela reportagem que tomou metade da página 4 do JT de 9 de março (cujas informações lastreiam este artigo), é que a vitória política de Lula significou um substancial progresso financeiro para os cofres do PT, aumentando seu arsenal para a corrida política de 2004 (e de 2006) e permitindo-lhe ampliar o número de diretórios e reestruturar cerca de 90% dos que já possui nos 5.658 municípios brasileiros, começando por informatizá-los, e desencadeando uma campanha nacional de afiliação. Duda Mendonça terá mais trabalho e novos contratos.
Em julho será constituído um Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) com vistas a garantir sucesso eleitoral petista em cada município. Como diz Genoino, tudo "isso custa dinheiro". "Vamos construir um projeto para explorar mais a marca PT, mesmo do ponto de vista comercial", acrescenta. Mas dinheiro é o que não falta. A previsão de arrecadação do partido para este ano é de R$ 104.262.917,00 - um aumento de 78% com relação ao ano anterior. Maior que as verbas somadas de numerosos órgãos governamentais de primeira linha. Quiçá de todo investimento no Programa Fome Zero.
Considerando-se que o PIB brasileiro não aumentará mais do que uns 2% no ano, o PT é uma das únicas coisas que crescem economicamente no País, graças às contribuições de todos os cidadãos, que pagam os tributos que pagam seus afiliados que financiam a caixa do partido. Assim, o PT é mais um dos drenos ocultos instalados em nosso bolso.

Benedicto Ferri de Barros é da Academia Paulista de Letras e da Academia
Internacional de Direito e Economia e ator de "Que Brasil é Este? - Um
Depoimento (Editora Senac) e-mail: bdebarros@sanet.com.br

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Tem razão, Bira, o artigo é genial. Perceba no entanto que ele só toca o "Caixa 1" do PT. O Caixa 2 é vastíssimo e tem as mais diversas fontes. O fato do PT continuar existindo (e vai continuar existindo) é a prova mais cabal de que o estado de direito já era.

7:09 PM  

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