ILUMINÂNCIA

Carl Sagan em seu livro "Mundo assombrado pelos demônios", relata algo que pode ser a explicação pelo non sense do eleitor brasileiro frente a corrupção: "Se somos enganados por tempo suficiente, tendemos a rejeitar qualquer evidência de nosso engano. Não temos mais interesse em descobrir a verdade. O engano nos dominou. É demasiado doloroso admitir, mesmo para nós mesmos, que fomos capturados. Uma vez que você dá poder sobre você mesmo a um charlatão, é quase impossível recuperá-lo."

sexta-feira, janeiro 26, 2007



O emprego no Brasil - algumas coisas que muitos não sabem e que propositalmente alguns não contam.

Irei comentar inicialmente este texto:

A empresa num ano, paga 13,3 salários ao trabalhador, recolhe encargos equivalentes a 12,6 salários, e o trabalhador trabalha efetivamente 8,83 meses (já está implicito no custo da mão de obra, ou seja, a cada produto vendido, já foi absorvido o valor, assim, não é nenhuma surpresa). O trabalhador homem ainda tem direito a ficar uma semana remunerada sem trabalhar, caso ganhe um filho (dificilmente as empresas permitem isto, agendando férias ao funcionário).O trabalhador caso seja demitido depois dos 90 dias de experiência, ganha um salário integral chamado de aviso-prévio e tem o direito de trabalhar somente 54% do tempo neste mês (já embutido no custo da mão de obra). E ainda recebe do empregador 40% sobre o valor total do FGTS a título de multa, por ter sido demitido “injustificadamente” mesmo que ele seja um incompetente (há mérito na medida, para evitar rodizio de mão de obra, já a incompetência deve ser avaliada na experiência com critérios objetivos e de conhecimento do funcionário). Porque demissão por justa causa só ocorre em faltas consideradas graves e assim mesmo sujeita à interpretação da Justiça do Trabalho (isso é um fato). Sem contar o descanso semanal remunerado que corresponde a 52 dias por ano. Em termos de índice de produtividade, isto significa que de um total de 2.920 horas trabalháveis num ano ( 8 horas por dia, 365 dias por ano), totalmente pagas pelo empregador ao empregado (reparem a redundância - sabidamente embutido no custo da mão de obra), este tem o direito legal de trabalhar efetivamente 2120 hs( 265 dias) e recebe diretamente por isso o equivalente a 2350 horas(294 dias). Isto dá uma produtividade de 65% (isto pode parecer injusto mas não o é. Sucessivos planos econômicos, repassam aos trabalhadores o custo brasil através da deflação de seus salários (no plano real cairam em 50% de seu valor em dólar), forma encontrada pelo governo para evitar a indexação dos preços, quando deveria reduzir impostos, corrupção e ter responsabilidade fiscal). Em vários países, principalmente em países desenvolvidos e nos países emergentes como os “tigres asiáticos” e a China, esta produtividade chega a 86% (muitos utilizam tabalho escravo e/ou possuem problemas de super população, com enorme quantidade de mão de obra disponível e problemas sociais gravíssimos, além de ditaduras como forma de governo. Um exemplo recente é a fábrica da Nike). Com encargos sociais bem menores.
São números, que refletem o porque hoje temos tantos sub-empregados e trabalhadores informais ( a causa não é o custo da mão de obra e sim o descontrole populacional nas camadas menos favorecidas e o desgoverno, impedindo investimentos proporcionais a demanda de mão de obra). O próprio IBGE mostra esta proporção assustadora quando indica que dos 19 milhões de pessoas ocupadas, somente 7,5 milhões têm carteira assinada. (para um mesmo emprego com carteira, um trabalhador que recolhe IRPF e sindicato, poderia sem o emprego formal, poupar este "custo" e ter uma participação no consumo ou qualidade de vida, maiores e disciplinado, recolher a previdência mensalmente. Ou seja, a carteira assinada só é interessante para aqueles que não recolhem IRPF. Tudo é questão de números, o que não foi feito pelo missivista.).
Numa situação recessiva, ou de baixa atividade econômica, onde o crescimento da economia é inferior ao crescimento da população em idade ativa (estima-se que a cada ano, entrem 2,0 milhões de pessoas nesta faixa) a concorrência na atividade privada se acirra, os preços caem por falta de demanda, a oferta de empregos diminui em termos absolutos e relativos (sim, perfeito, culpa do desgoverno e da população que acha normal). O empresário que tem seus preços aviltados pelo aumento de concorrência(?!), para se manter competitivo tem duas alternativas no caso da empregabilidade. Demite e aumenta a jornada de trabalho para os empregados remanescentes, terceiriza a produção e joga os encargos para os terceirizados ou faz um acordo informal com os empregados e os transforma em informais. A terceirização (chamada também de “outsourcing”) tem sido a via mais comum desde 1987.(inclusive entrei nesse processo e montei uma empresa. Mas qual é a verdadeira razão, desgoverno com conivência da população ou custo(deflacionado por planos mirabolantes) da mão de obra?).
A produtividade brasileira é maior que os 65% justamente por causa da informalidade e da terceirização, não captadas pelas estatísticas. A arrecadação do sistema de previdência e seguridade social é menor proporcionalmente a esta produtividade, devido à informalidade que hoje beira 60% da população ocupada. Daí, o déficit da Previdência Social no setor privado. Poucos pagam muito pelos muitos que pagam pouco ou nada. (a questão da previdência é singular. Sem controle populacional ou investimentos proporcionais, permite-se que o dinheiro arrecadado por aqueles na ativa, seja direcionado a quem não contribui, inevitável pelo desgoverno e pelo populismo(necessidade de voto). Já o dito déficit, depende dos valores que o compõe como recursos da seguridade. Na eleição de 2006, pudemos conhecer a maquiagem das contas ou meia verdade).
No setor público, o problema é outro. Os encargos sociais são menores, o turn-over é menor, quase nulo. União, Estados e Municípios recolhem basicamente as contribuições à Previdência Pública.Lá não existe o Fundo de Garantia porque e trabalhador público é estável(não sujeito à demissão injustificada). (aqui sim ficam os incompetentes, não lembrados pelo missivista, cujo ônus interfere no crescimento da nação).
O funcionalismo público cujo contingente atual é estimado em 5,5 milhões de pessoas(União, Estados e Municípios)tem uma produtividade inferior ao trabalhador privado pois, contando as férias , as licenças-prêmio, os pontos facultativos e a jornada diária de trabalho inferior , greves intermináveis, sua produtividade é de apenas 36% . Trabalha o equivalente a 140 dias por ano ou 1120 horas. (é muito pior nos dias de hoje, cujo deputado apresenta como custo direto mais de 100 mil reais para produtividade zero, sem falar no "por fora" via mensalão - não reconhecido pelo governo atual, mas mencionado pelo mesmo como tendo origem no governo anterior, ou seja, existe de fato, apesar do jogo de palavras).
http://estoudeolho.blogspot.com/




Em resumo, o missivista perde-se na visão pontual do custo, sem levar em conta a visão macro do processo.


Se hoje o empregador oferecer uma colocação sem registro, mas que na ponta do lápis incorpore os 40% da multa (que pode cair a qualquer hora), a previdência, 13º, o aviso prévio, férias a cada 24 meses, pode custar a empresa metade do preço e ao trabalhador o IRPF e custo sindicato no bolso. Negócio tentador já que para a justiça, caixa 2 eleitoral não é crime e ninguém é punido, assim, podemos solicitar isonomia e tratamento igualitário garantido pela constituição, perante a receita federal.


Já para os trabalhadores, cuja rotatividade de mão de obra pode ser um problema, o custo deve permanecer como está. A solução deve vir de um gerenciamento efetivo dos trilhões de impostos, planejamento familiar e investimentos condizentes com a disponibilidade de mão de obra e não do achatamento dos salários.